E se me contradigo é a própria realidade a contradizer-se (ou, das variações sobre um adágio comum a Hegel e a Pessoa).
E se me contradigo é a própria realidade a contradizer-se (ou, das variações sobre um adágio comum a Hegel e a Pessoa).
Os filósofos que acreditam na lógica absoluta da verdade nunca tiveram de travar uma discussão cerrada com uma mulher.
Cesare Pavese, Ofício de Viver (citado pela V.)
No meu novo cartão de telemóvel vinha pré-gravado um número (de um serviço de apoio, imagino eu) registado sob o nome Quem sou eu?
Falta-me a disciplina, aquelas "seis horas, no mínimo, à secretária". Já no masoquismo e no prazer da solidão estou bem amparado, parece-me.
Ou da imagem deleuziana da investigação filosófica como sendo qualquer coisa que está a meio caminho entre o romance policial e a ficção científica.
Jean-Luc Nancy deixa uma pista na abertura (in fine) do seu Ego Sum de 1979. E as pistas são para seguir.
Um resumo de um texto que ainda não existe (meramente no sentido em que ainda não actualizou as suas virtualidades) não é um resumo, é um esquema orientador, imagem do pensamento "in statu nasciendi".
Ou do princípio ontológico-transcendental da reversibilidade entre corpo e pensamento (desde logo intuído pela Cristina).
A genialidade deve ter que ver com uma certa sincronização do corpo com as velocidades do pensamento.
Aos que sentem a pressão de escrever rápido, publicar cedo, expor o trabalho para darem visibilidade a um nome, só lembrar que, quando a 2ª edição (1787) da Crítica da Razão Pura saiu, Kant contava com 63 anos de idade.
Como o mostrou Leibniz, a força é um virtual em curso de actualização, assim como o espaço no qual ela se desloca.
Deleuze, G. “L'actuel el le virtuel” (1995) in Dialogues, Flammarion, Paris, 1996. Tradução e sublinhados meus.
Acabo de ouvir uma expressão que, como definição de Homem, não desagradaria a Camus: "condenado à morte com pena suspensa".
Escrever para falhar, sendo a única diferença (ou aquilo que faz a diferença) a ambição do que está em jogo, isto é, a grandiosidade do falhanço.
De quando em vez, nos habituais zappings pela bloga, recordo-me de um curto post (salvo erro no Blog de Esquerda) que li naquela que foi uma das minhas primeiras incursões (cinco anos atrás?) por esta roda viva como leitor, e que dizia mais ou menos isto (cito de cor): A blogosfera portuguesa podia-se dividir entre aqueles que preferem Maria Filomena Mónica e aqueles que preferem Maria Filomena Molder. Não me parece que tenha perdido muito sentido.
Ao pé desta capacidade de síntese, aquilo que chamo de pequenos textos (sobre grandes filmes) não apelará senão à sonolência.
Vivermos nesta luz é estarmos hoje
em transparência de categoria.
Echevarría, F. Fenomenologia, Ed. Nova Renascença, Porto, 1984
Tout au contraire. Herberto Helder é o nosso mais extremo contemporâneo, contemporâneo de uma modernidade que trabalha ao limite.
Sempre que me sai algum a citar-me Lavelle concentro-me, e, como que esperando pelo momento certo para lançar um cocktail molotov, cito a frase de Merleau-Ponty "Um homem só é um homem quando é um pouco menos ou um pouco mais que um homem". Uma arma de arremesso. E, de qualquer forma, como diria outro ainda, "o hermetismo sempre foi a maneira mais eficaz de mandar alguém à merda".
Hoje, e depois de passar os olhos pelo cartaz de Entre les murs, e por um processo de regressão que vai das imagens conscientes às imagens inconscientes, percebi que tinha sonhado com o filme (ou pelo menos com algumas imagens dele). Notar só, atestando a extrema liberdade das imagens, que ainda não vi o dito cujo.