"[...]mas faz-nos esboçar uma realidade supra-sensível compatível com o uso experimental da nossa razão. Sem uma tal precaução, não saberíamos fazer o mínimo uso de semelhante conceito e deliraríamos ao invés de pensarmos.[...]"

15
Fev 09

 Aqui está uma óptima boleia para um debate que se quer profundo e o mais alargado possível sobre uma das características constitutivas da Europa e a sua possibilidade de produção no futuro próximo, a inteligência.

escrito por José Carlos Cardoso às 23:24

04
Nov 08

Não sei se a clique local anti-Obama tenta proteger a esquerda das suas ilusões ou se, por outro lado, tenta salvar o mundo das convicções alimentadas pela ilusão. No primeiro caso, mais comum, temos um comovente paternalismo. No segundo, o medo de que a ilusão intervenha na realidade antes que ela tenha tempo de devolver a conta da fantasia. Esse medo seria razoável enquanto clássico receio da megalomania revolucionária, mas, como amavelmente nos avisam, esse perigo não existe (já o sabemos, Obama está longe de ser de esquerda, será um realista, nacionalista, pró-Israel, defensor do Império). Na verdade, é o mero valor político da esperança que os repugna -- a que se junta alguma clubite (não confessa) na véspera de uma possível derrota.

 

Obama e a direita europeia, por Bruno Sena Martins. Quanto à esquerda europeia (que não tem que ver com nada do que existe no sistema partidário americano hoje), com a dose utópica que lhe é constitutiva, só quer um interlocutor que, não se restringindo ao inglês standartizado da macroeconomia e dos foreign affairs, e mesmo não precisando de citar Shakespeare, possa ecoar Walt Whitman. Talvez a Europa se recorde, se Obama se tornar nesse interlocutor, de Kant, Goethe, Baudelaire, Pessoa e Mandelstam.

escrito por José Carlos Cardoso às 23:52
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01
Set 08

 Mas este belo sonho é também o de uma Europa mutilada, voluntária e absurdamente cortada dessa mesma Santa Rússia há mais de mil anos ortodoxa e tão europeia como a mais românica ou nórdica Europa. Como é possível que a Europa tenha algum futuro digno dos seus sonhos do passado (bons e maus), sem pensar noite e dia nesse espaço naturalmente europeu, sem o qual, como dizia Valéry, a nossa Europa nunca será mais do que um pequeno cabo da Ásia? Não temos que escolher entre os Estados Unidos e a Rússia, ou digamos, entre Walt Whitman e Tolstoi. Mais nos importa partilhar à nossa maneira a visão epicamente universal do destino humano de que ambos foram exemplo. E, antes disso, ou a par disso, lembrarmo-nos da nossa “velha Europa”, mãe de todas as utopias universalistas e, hoje, entre parênteses de si mesma, sem mais projecto que a pretensão de arbitrar à la petite semaine, e segundo o impulso dos seus Napoleões virtuais, conflitos que já não estão à altura da sua fraqueza. Ainda por cima, como criada de quarto pressurosa e impotente do único dono do universo.

 

Eduardo Lourenço, "Europa paralisada e mutilada" in Público, 01.09.08

escrito por José Carlos Cardoso às 19:42

22
Jun 08

 Entre ou au delà des deux pôles de l’ontologique et du transcendantal où le questionnement politique cherche à s’articuler, il me semble qu’on peut distinguer une perspective différente, qui est précisément celle dans laquelle se situe mon travail. Le déséquilibre dans lequel le discours politique est constamment pris entre d’une part une revendication d’autonomie, d’irréductibilité, et d’autre part l’impossibilité de ne pas s’étayer sur un discours spéculatif déterminé, me semble, non pas se résorber, mais du moins devenir plus intelligible lorsqu’on s’interroge sur l’articulation de la politique et de l’anthropologie. C’est par un retour sur certains points aveugles de notre interprétation du marxisme, et, au fond, sur une dénégation qui se trouvait bien chez Marx, que j’ai été conduit à envisager la nécessité d’une reformulation et d’une relance du problème anthropologique.

 

Étienne Balibar, Une philosophie politique de la différence anthropologique - Entretien avec Bruno Karsenti

escrito por José Carlos Cardoso às 19:42

21
Jun 08

Ver um soi disant liberal a ir ao Marx com a desenvoltura que lhe é suposta em Rawls ou Nozick é coisa louvável. Ainda que, todos sabemos, o velhote sempre tenha tido as costas largas. O que me interessa ali é aquela frase subtilmente lapidar, que, pela técnica de escrita, cola-se ao leitor mais desprevenido como se de uma evidência se tratasse:

 

"E não há diferença sem conflito."

 

Ora, é daquelas coisas que, como dizem os franceses, il ne va pas de soi. Com efeito, é de toda uma velha e bafienta leitura de Marx que se parece tratar, à imagem do que foi, décadas antes, a leitura torpe que pretendia colar Nietzsche a algumas posições de direita radical, e que toda uma geração de intelectuais e filósofos, principalmente de origem francesa e italiana, se empenhou a desmontar ao longo dos anos 60, ao mesmo tempo que o Hegel de alguns marxistas (nomeadamente da Escola de Frankfurt) aparecia como mais conservador.

 

Assim, e pour aller vite, o nó górdio da questão está no estatuto ontológico atribuído à síntese hegeliana, lugar por excelência do trabalho do negativo, motor do sistema regido pela negação dos contrários, e isto significa fazer depender (ontologicamente) a diferença do negativo. Foi justamente esta dependência que a empresa deleuziana de uma ontologia da diferença visou suplantar, tentando pensar a diferença na sua primazia ontológica como eminentemente afirmativa e criadora (e, portanto, positiva). Isto reveste-se de uma enorme importância - para dar um só exemplo, sensível ao autor - se perspectivado em relação estrita com as possibilidades da construção europeia e como máquina de resistência às lógicas identitárias que, por estes dias, ainda grassam pelas cabecinhas iluminadas dos nossos governantes e dos burocratas de Bruxelas (veja-se por exemplo a política de imigração que Sarkozy quer fazer vingar - Foucault já dizia, há trinta anos atrás, que um dos maiores problemas da Europa iria ser o da imigração - e a absurda Directiva 18 vergonhosamente aprovada na sede da União).

 

Quer-se, pois, um Marx capaz para pensar o séc. XXI e os desafios que este nos coloca. Deleuze já não o fez, embora, à altura do seu suicídio em 1995, começasse a preparar um La Gloire de Marx. Mas fazem-no uma nova vaga de pensadores (T. Negri; E. Balibar; Y.M. Boutang; M. Tronti; etc) que trocaram Hegel por Espinoza para principal interlocutor. Uma Europa possível, uma outra Europa poderá passar por aqui. De qualquer forma, de uma coisa estou convencido, ou a Europa se faz como espaço privilegiado da diferença (que lhe é constitutiva), ou elle ne sera pas.

 

escrito por José Carlos Cardoso às 23:41
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16
Jun 08

escrito por José Carlos Cardoso às 23:17
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