O que eu gostava mesmo de ler do Žižek era como, muito ao seu gosto, dialecticamente, se passa desta posição para esta (pré-eleição e pós-eleição).
O que eu gostava mesmo de ler do Žižek era como, muito ao seu gosto, dialecticamente, se passa desta posição para esta (pré-eleição e pós-eleição).
Relativamente a esta pergunta (lícita, absolutamente) -
Nalguns momentos, é lícito perguntar se estes textos mesmo sobre cinema, no mesmo sentido em que também perguntamos isso sobre os célebres livros de Deleuze; com efeito, Zizek usa e abusa dos filmes, fazendo digressões imprevisíveis e colagens de ideias estonteantes.
- dizer, tão somente, que não sendo nenhuma das digressões (a de Deleuze e a de Žižek) livros sobre cinema (no seu sentido mais vulgar), um abismo as separa: Žižek faz um tratado de antropologia de abordagem psicanalítica, enquanto que os dois volumes de Deleuze seriam o penúltimo passo decisivo na construção de uma ontologia que, justamente, deitaria por terra (entre outras coisas bem mais incrustadas no subsolo dogmático do pensamento ocidental) toda a pretensão antropologista.
P.S. Referir ainda, en passant, que quando Deleuze dizia que era necessário e benéfico haver leituras e apropriações não-filosóficas da filosofia (inclusive da sua), estava também a dizer o mesmo em relação a criações não-artísticas e não-científicas da filosofia a partir destas.
A recente editora Orfeu Negro, subsidiária da Antígona, edita de forma contida mas certeira. Chega às livrarias na próxima sexta-feira Lacrimae Rerum, súmula de ensaios sobre cinema de Slavoj Žižek. No dia seguinte prevê-se uma festa quando este comparecer à sessão de lançamento da tradução portuguesa do seu livro na Cinemateca Portuguesa, porque se há coisa que Žižek garante, à partida, nas suas aparições, é animação.
Embora nos dividam fossos abissais relativamente às posições fundamentais que sustentam a obra zizekiana (escreverei sobre a seu tempo, começando provavelmente pela interpretação de Deleuze levada a cabo em Organs without Bodies), este livro revela uma fertilidade digna de registo dessas mesmas teses no campo de trabalho que é o cinema.
Que seja aproveitada a oportunidade para confrontar o autor com algumas ambiguidades teóricas existentes na sua obra e críticas pertinentes de que tem sido alvo (como tive a oportunidade de o ver em grande forma em Paris) e não se tombe no show off que ele tão bem sabe fazer, e pelo qual, conjuntamente com a sua maneira um tanto ou quanto leviana e por vezes superficial de tratar problemas nucleares da filosofia ocidental, tem sido menosprezado nalguns círculos, digamos, mais rigorosos. De qualquer maneira afición não lhe vai faltar, estou certo.