"[...]mas faz-nos esboçar uma realidade supra-sensível compatível com o uso experimental da nossa razão. Sem uma tal precaução, não saberíamos fazer o mínimo uso de semelhante conceito e deliraríamos ao invés de pensarmos.[...]"

24
Set 08

 

Vista frontal da Fondaco Marcello, espaço ocupado pela representação oficial portuguesa Cá Fora: Arquitectura Desassossegada à Bienal de Arquitectura de Veneza.

escrito por José Carlos Cardoso às 23:02

Fiz as contas e resolvi comprar o Livre Trânsito; vou experimentar — mais ou menos — o que é ter uma cinemateca à porta de casa (como no saudoso "Olhar de Ulisses"). E espero, sinceramente espero, encontrar no auditório de Serralves (260 lugares), ao longo destas sessões, as muitas pessoas que assinaram aquela petição (até agora 4373). Ontem à noite não apareceram (Rebecca é de 1940 e perder um filme de Alfred Hitchcock numa sala de cinema é, pelas minhas regras autoritárias, um crime). Talvez se estejam a guardar para experiências mais duras? É uma pena reduzir a política a palavras vãs e quando chega uma oportunidade (alguém duvida que a frequência deste ciclo pode ajudar a perceber a viabilidade de uma cinemateca no Porto?) falta a acção necessária e tão simples: ver e rever a projecção dos filmes. Apenas isso, para conversa balofa bastam os funcionários dos partidos, não é?

 

A gentil Cristina diz tudo, na justa medida. Os sublinhados são meus. 

escrito por José Carlos Cardoso às 22:57

21
Set 08

 Justamente, ou da imagem como diluição entre espaço interior e exterior do corpo

escrito por José Carlos Cardoso às 23:53

19
Set 08

 A pergunta mantém-se; entretanto este chegou hoje, finalmente.

escrito por José Carlos Cardoso às 22:40

15
Set 08

 Christine Buci-Glucksmann, uma das filósofas mais inventivas e sofisticadas da área da Estética na actualidade, abre e fecha o Encontro Internacional Efémero. Criação. Acontecimento, a realizar-se amanhã e quarta (16 e 17) no Instituto Franco-Português.

A conferência de abertura, L'Ésthétique de l'Éphémère, terá como mote a problematização de como "a mundialização e o desenvolvimento das novas tecnologias conduziram à passagem de uma cultura de estabilidades a uma cultura de fluxos, modificando a consciência e a forma do tempo. O fim do modelo linear do progresso, assim como o do modernismo na arte geraram uma pluralização dos tempos (cf. Benjamin) e o desdobramento do devir: ao mesmo tempo maquínico ultra-rápido e em directo, e cada vez mais efémero, na vida como na arte.", e seguirá o seguinte esquema de exposição:

"Analisar-se-á o conceito filosófico de efémero nos seus diferentes momentos (grego, barroco e contemporâneo) para resgatar uma estética do efémero. Para esse fim, esclarecer-se-á os seguintes pontos:

1) Em que é que o efémero pressupõe o fim de toda uma concepção ontológica da arte, ao restituir toda a sua actualidade ao binómio processo/maneira e ao acontecimento?

2) Distinguir-se-á um efémero melancólico nas suas estéticas e na sua história (as Vanitas, Hamlet, o spleen de Baudelaire, o desassossego de Pessoa, e o fim da aura de Benjamin) de um outro efémero pós-melancólico, ligeiro, positivo e nietzschiano, verdadeira ponte teórica entre o Oriente japonês e o Ocidente.

3) Analisar-se-á certas modalidades deste efémero na arte e muito em particular um novo regime da imagem, que analisei como imagem-fluxo, e que afecta tanto a arte como a arquitectura. Para assim construir uma estética poli-sensorial concebida como estilística."

A conferência de encerramento, De l'Éphémère à l'Ornement, parte de "duas concepções de mundialização: uma liberal económica que tende à homogeneização das culturas a partir do mercado, e finaliza em lógicas guerreiras. A outra insiste no papel central da cultura numa “mundialidade” que implica um pensamento pós-colonial e intercultural de todas as hibridações."

A partir destas premissas, "tomar-se-á a questão do ornamento como sintoma de um triplo retrocesso do moderno: as mulheres, os primitivos e o Oriente. Esta história, que começa com a exclusão platónica da aparência, realiza-se no virar do século no célebre debate vienense: é o ornamento um crime (Loos) ou um estilo (Klimt, Riegl).

Esta problemática servir-nos-á de fio condutor para considerar os seguintes pontos:

1) Verdadeira ponte entre as culturas, entre Oriente e Ocidente, proceder-se-á à actualização de certos cruzamentos ornamentais (mundo islâmico e japonês) e os seus efeitos (cf. Matisse  “toda a arte é decorativa”, ou Paul Klee).

2) Efectuar-se-á uma nova leitura do moderno e do « pós-moderno », na arte (pintura, instalações...), e também na arquitectura (Greg Lynn, Ito, Zahid ou Gehry).

3) A partir da primazia dos artefactos e das hibridações, o ornamento é hoje uma modalidade de criação que afecta todas as práticas, a ponto de o virtual criar real, e permitiu reabilitar e explorar as formas curvas, em espiral e universais (desde o neolítico que se encontra espirais) caras ao maneirismo e ao barroco, a ponto de podermos falar de um neo-barroco tecnológico. Voltarei a tomar então certas hipóteses do meu último livro La philosophie de l'Ornement, nas suas implicações contemporâneas."

Assim, trata-se de um acontecimento maior, podendo o ouvinte acompanhar a autora, que, de viva voz, fará a passagem das teses de dois dos seus últimos livros, que estruturam e sustentam a base conceptual na qual trabalha neste momento. A não perder, claro está. 

escrito por José Carlos Cardoso às 22:37

 

Dominique Fernandez, que escreveu um estudo importante chamado L’échec de Pavese (1968), diz que os grandes diários intimistas (de Amiel, Kafka, Pavese) servem aos seus autores como «defesa», «protesto», «refúgio», «vingança», «(...)et en même temps le moyen de parfaire leur autodestruction en les coupant peu a peu de leur entourage et en les rendant inaptes à la communication sociale». É que a «exposição» é uma forma de isolamento. 

 

Pedro Mexia no Estado Civil

escrito por José Carlos Cardoso às 21:38

escrito por José Carlos Cardoso às 06:58
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14
Set 08

 

Compreender a importância do mês de Setembro para a Arte e a Cultura (e para a criação em geral, diria eu) é sintoma de uma sensibilidade aguda dos temperamentos e dos afectos (e da História das mesmas, mas esta é efeito e nunca causa). Daqui a pouco - 23h:30m - o Câmara Clara dedica-lhe um programa.

 

Na imagem, detalhe de frame de Sonata de Outono de Ingmar Bergman. Note-se a paleta. 

escrito por José Carlos Cardoso às 22:30
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12
Set 08

 

Pergunta Novalis: "para onde se dirige a alma de noite?" 
Responde Maria Filomena Molder: "a alma de noite dirige-se para o seu sonho e toma a sua escada, o corpo."

 

Na imagem, "Ne Dors Pas" de Rui Chafes, 1999. Ferro, 380 x 260 x 180 cm

escrito por José Carlos Cardoso às 18:32

10
Set 08

 Aquilo que Quignard diz, reagindo ao interlocutor, a pensar em Hölderlin - "onde está o perigo está também o que salva" - alumia a formulação wittgensteiniana "Génio é Coragem".

escrito por José Carlos Cardoso às 19:21

 O Pascal Quignard, uma das minhas penas favoritas, explica em 52 segundos.

escrito por José Carlos Cardoso às 17:44

08
Set 08

 Hoje, e depois de passar os olhos pelo cartaz de Entre les murs, e por um processo de regressão que vai das imagens conscientes às imagens inconscientes, percebi que tinha sonhado com o filme (ou pelo menos com algumas imagens dele). Notar só, atestando a extrema liberdade das imagens, que ainda não vi o dito cujo.

escrito por José Carlos Cardoso às 22:01

 Entrou hoje em funcionamento o site PNETliteratura coordenado por Luis Carmelo. Fica ali estacionado à direita.

escrito por José Carlos Cardoso às 20:00
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03
Set 08

 

 

Informa-me, prontamente, a Direcção-Geral das Artes que o catálogo do projecto Cá Fora: Arquitectura Desassossegada pode ser adquirido aqui, já a partir de amanhã, estando os contactos com os livreiros em curso, para distribuição e disponibilidade nas livrarias em geral na próxima semana. O Índice promete.


 

Ontem, na apresentação oficial da representação portuguesa à 11ª Bienal de Arquitectura de Veneza, José Gil qualificou o resultado final como um "objecto poderoso" apelidando-o mesmo de "palácio infinito", fazendo, assim, alusão aos jogos de espelhos criados dentro e fora do edifício, abrindo, desta forma, canais de velocidades e intensidades infinitas, destruindo qualquer tipo de dicotomia estagnante, como é noticiado aqui. Por considerar este projecto de primeira grandeza, como comecei a explicitar aqui, e por este entrar em diálogo com as minhas mais actuais pesquisas, continuarei a escrever sobre, esperando o catálogo com muita curiosidade. 


01
Set 08

 

João Queiroz, Sem título, 2004, Óleo sobre papel, 23x45,5cm

escrito por José Carlos Cardoso às 20:07

 Mas este belo sonho é também o de uma Europa mutilada, voluntária e absurdamente cortada dessa mesma Santa Rússia há mais de mil anos ortodoxa e tão europeia como a mais românica ou nórdica Europa. Como é possível que a Europa tenha algum futuro digno dos seus sonhos do passado (bons e maus), sem pensar noite e dia nesse espaço naturalmente europeu, sem o qual, como dizia Valéry, a nossa Europa nunca será mais do que um pequeno cabo da Ásia? Não temos que escolher entre os Estados Unidos e a Rússia, ou digamos, entre Walt Whitman e Tolstoi. Mais nos importa partilhar à nossa maneira a visão epicamente universal do destino humano de que ambos foram exemplo. E, antes disso, ou a par disso, lembrarmo-nos da nossa “velha Europa”, mãe de todas as utopias universalistas e, hoje, entre parênteses de si mesma, sem mais projecto que a pretensão de arbitrar à la petite semaine, e segundo o impulso dos seus Napoleões virtuais, conflitos que já não estão à altura da sua fraqueza. Ainda por cima, como criada de quarto pressurosa e impotente do único dono do universo.

 

Eduardo Lourenço, "Europa paralisada e mutilada" in Público, 01.09.08

escrito por José Carlos Cardoso às 19:42

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