"[...]mas faz-nos esboçar uma realidade supra-sensível compatível com o uso experimental da nossa razão. Sem uma tal precaução, não saberíamos fazer o mínimo uso de semelhante conceito e deliraríamos ao invés de pensarmos.[...]"

30
Ago 08

 

escrito por José Carlos Cardoso às 00:47

28
Ago 08

 A divisão de Rilke: aqueles que amam e aqueles que são amados. A única.

escrito por José Carlos Cardoso às 05:28
sinais:

 Todo o plano é para o rosto dela - mas ela nunca olha para a câmara, antes para um ponto qualquer no fora de campo, num ligeiro viés. Em vez de acusar a sua presença, forçando a rapariga à extraordinária violência de a fitar directamente, a câmara evita intrometer-se na linha do seu olhar, faz o que pode para a deixar sozinha. E, com a mesma comoção e o mesmo orgulho, fica a observar uma miuda beirã a aproveitar o momento em que lhe ofereceram a possibilidade de ser uma Harriet Andersson ou uma Jean Seberg.

 

"Obliquamente", por Luís Miguel Oliveira

 

 

Aquele Querido Mês de Agosto é um dos grandes filmes portugueses dos últimos anos.|...| Gomes capta sempre a materialidade manipulada de que se faz o cinema, e que desemboca no gag final sobre os sons que se ouvem no filme mas que não existem «na natureza». Em Aquele Querido Mês de Agosto, a «ficção» (quase uma réstia) não é verdadeiramente uma ficção, é um simples melodrama juvenil, muito eficaz precisamente porque muito «verdadeiro». Tão verdadeiro e acima do bem e do mal como a própria música pimba que Gomes escolheu. Uma música que enquadra sem ironias aquelas emoções cruas e «pouco sofisticadas». Que são afinal iguaizinhas às nossas.

 

Se isto não é o povo, onde é que está o povo?, por Pedro Mexia

 

 

 Em geral, e por grosso, Miguel Gomes dá-nos a ler versos. Seria um longo debate saber se nos dá a ler poemas, pelo que me fico pela versão empírica ou, se se preferir, de mercearia: versos. Versos de canções pimba, esclareça-se. Porque o génio de MG não está apenas na utilização da música pimba como banda sonora do filme, e aliás muito para lá disso. Está sim na estranha operação, semiótica e estética, que consiste em inscrever nas imagens sempre tão justas do seu filme a letra das canções que o percorrem, ilustram e, ainda, o narram, suturam e dão a ver.

 

O balão jubiloso de Tânia faz-nos, mais uma vez, acreditar na possibilidade e potência do amor, e momentaneamente (pelo tempo justamente necessário) esquecer como tudo isto é produto de uma canção que nos pede aquilo que, desde que crescemos, sabemos ser pouco possível: que abracemos o mundo. Desde a esfusiante sequência de Nanni Moretti em Querido Diário, bailando, na sua vespa, ao som de canções, pelas ruas de Roma, que o cinema não era esta coisa elementar e mozartiana, tão intensamente e melancolicamente feliz.

 

Quem parasita quem em Aquele querido mês de Agosto? A «parte ficcional» parasita a «documental», como pretende a maioria da crítica? A produção, e o realizador em particular, parasita as pessoas da zona que convoca, usa (e abusa?) para a representação? O cowboy, e o beat, parasitam Moleiro? Miguel Gomes parasita Rossellini? A cidade, de onde vem e onde se «faz» institucionalmente o cinema, parasita o campo? As canções parasitam a pureza da captação do som do vento, dos regatos e dos trinados das aves nas serranias? Perguntas ociosas que de súbito se tornam fundamentais, ou perguntas fundamentais, sem as quais não há cinema (ou arte), que o filme torna ociosas, dando a ver a sua banalidade de base? Ou antes, e se calhar, perguntas morais, às quais só podemos responder, como sempre em arte, de forma extra-moral. Porque, como é evidente, o grande paradigma do parasita ou do bobo da corte é, muito simplesmente, o artista.

 

Aquele querido mês de Agosto, I, II, III, IV, por Osvaldo Manuel Silvestre

escrito por José Carlos Cardoso às 05:24

 O faulkneriano 'Auto dos Danados' do Lobo Antunes está para o contexto latifundiário e burguês como o 'Brutti, Sporchi e Cattivi' do Ettore Scolla está para o proletário e suburbano. A tendência para o grotesco, e já o mostrava o Marquês de Sade no século XVIII, não olha a berço, classe social ou faixa económica nem se apanha como uma gripe ou peste bubónica. Vem à nascença nos genes, como a cor da pele ou o tamanho do nariz.

 

"Do grotesco" in Vontade Indómita

escrito por José Carlos Cardoso às 05:20

26
Ago 08

 

 

Mais uma boa notícia. Já estava até um pouco resignado com a impossibilidade de ir a Évora ver a Antologia Experimental de José M. Rodrigues antes do fim de Agosto. Sei agora, por quem já foi e tem escrito sobre, que a mesma foi prolongada dois meses. O meu mês começa a compor-se. E vai dar-me um certo gozo, entrar ali, onde em tempos fiz exames e defendi ensaios em provas orais acaloradas. 

escrito por José Carlos Cardoso às 21:38
sinais:

 Por causa deste belíssimo texto, o Osvaldo Manuel Silvestre lançou o repto n'Os Livros Ardem Mal. Assino por inteiro.

escrito por José Carlos Cardoso às 02:12

 A Assírio & Alvim fez saber que em Setembro aparecerá, com material inédito e decantação poética, o novo volume do infinito poema herbertiano, intitulado A Faca não Corta o Fogo - súmula & inédita. Já sinto o cheiro da terra.

escrito por José Carlos Cardoso às 01:46

25
Ago 08

 

 

Foi há um ano e nesse dia tentei traçar para mim próprio, principalmente para mim próprio, o que me tinha dado, sem ter ainda a mínima consciência do que tínhamos perdido. Este ano fala por si.

escrito por José Carlos Cardoso às 21:35

22
Ago 08

 A separação entre o Criador e o universo, o Sol, a Lua, a fecundidade das espécies, e por aí fora, é uma crítica teológica das magias religiosas dessas épocas, tarefa que a aliança entre a Filosofia grega e a Bíblia no seio da teologia cristã veio a concretizar paulatinamente: pré-história da própria razão biológica.

 

Belo, Fernando. "Evolução, razão e Bíblia" in Público 22.Ago.08, p.37

escrito por José Carlos Cardoso às 23:31

21
Ago 08

 

 

Finalmente disponível, o texto de apresentação da representação oficial portuguesa à mostra de arquitectura da Bienal de Veneza traça o horizonte teórico da intenção e sobretudo da ambição do desafio que os comissários - José Gil e Joaquim Moreno - lançaram ao arquitecto Souto de Moura e ao artista plástico Ângelo de Sousa: "materializar temporariamente o heteronímico desassossego num contraditório Cá Fora", sintoma de "um «fora» em expansão «cá» dentro que põe este em movimento permanente e paradoxal", movimento este que difere do movimento extensivo que dá a medida do tempo aristotélico, antes tratando-se de movimentos intensivos, heterogéneos em si, massa de "um tempo que "saiu dos eixos""*, o tempo do acontecimento. Estamos assim, no vértice que considero mais fértil e urgente do pensamento e da criação da/para a contemporaneidade, que este projecto, aliás, assume como necessidade.

Desta maneira, todo o projecto parece estar assente numa perspectiva laboratorial, constitutiva de toda a "abertura de um novo campo de experimentação", de forma a potenciar essa "ilimitação do exterior no interior" que, por uma lógica do excesso**, abre os "intervalos diferenciais" de onde germina toda a criação, o novo in statu nasciendi. Todo um programa, está bom de ver.

Ângelo de Sousa, em declarações ao Jornal de Notícias, revela, de forma geral, de que maneira isto vai ser tentado, e o principal instrumento utilizado - o espelho -, elemento clássico e com forte tradição tanto na história da arte como do pensamento ocidental e recorrente em ambas as obras do artista e do arquitecto. Aquilo que o artista refere como o "inverso de mim", a minha imagem vista por mim como é vista pelos outros, provoca uma clivagem, uma ruptura e uma desorientação inconsciente face à imagem do corpo, abrindo um espaço de diferenciação entre elas, espaço de surgimento do(s) outro(s) em nós, até ao limite da impossibilidade de identificação. Por tudo isto, e muito mais, voltarei ao assunto certamente.

 

*Cf. Deleuze, G. "Sur quatre formules poétiques qui pourraient résumer la philosophie kantienne" in Critique et Clinique, Minuit, Paris, 1993.

**Cf. Gil, J. "A abertura do sem-fundo. Lógica do excesso" in O imperceptível devir da imanência. Sobre a filosofia de Deleuze, Relógia d'Água, Lisboa, 2008


 

 

Estreou hoje no circuito comercial Aquele querido mês de Agosto, a segunda longa metragem de Miguel Gomes, que merece toda a atenção, tratando-se, tão só, de um dos melhores filmes portugueses dos últimos anos. Amanhã, o filme é capa do Ípsilon com respectivo dossier.

escrito por José Carlos Cardoso às 23:11
sinais:

19
Ago 08

 

 

Nem mais, o Luís Carmelo diz quase tudo. Só nessa ambiguidade vale a pena descansar, por vezes, continuar a trabalhar, muitas vezes com coisas que nos advêm desse marasmo indistinto. Neste verão cosseryano a preguiça e o trabalho sobre esta são uma e a mesma coisa, o que também quer dizer que de um trabalho que é, por definição, infinito e inacabável não se podem esperar senão mudanças de velocidade e estágios inconscientes do que aí vem. Agosto ubíquo. 

escrito por José Carlos Cardoso às 22:43

04
Ago 08

 Para breve os textos sobre Tsai Ming-liang e Lee Kang-sheng, sobre Martin Arnold e, por último, sobre a instalação Promenade de Richard Serra. 

escrito por José Carlos Cardoso às 23:50

 

 

Instalação de Richard Serra no Grand Palais em Paris para a Monumenta'08.

escrito por José Carlos Cardoso às 23:36

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