"[...]mas faz-nos esboçar uma realidade supra-sensível compatível com o uso experimental da nossa razão. Sem uma tal precaução, não saberíamos fazer o mínimo uso de semelhante conceito e deliraríamos ao invés de pensarmos.[...]"

25
Jun 08

 

 

A recente editora Orfeu Negro, subsidiária da Antígona, edita de forma contida mas certeira. Chega às livrarias na próxima sexta-feira Lacrimae Rerum, súmula de ensaios sobre cinema de Slavoj Žižek. No dia seguinte prevê-se uma festa quando este comparecer à sessão de lançamento da tradução portuguesa do seu livro na Cinemateca Portuguesa, porque se há coisa que Žižek garante, à partida, nas suas aparições, é animação.

Embora nos dividam fossos abissais relativamente às posições fundamentais que sustentam a obra zizekiana (escreverei sobre a seu tempo, começando provavelmente pela interpretação de Deleuze levada a cabo em Organs without Bodies), este livro revela uma fertilidade digna de registo dessas mesmas teses no campo de trabalho que é o cinema.

Que seja aproveitada a oportunidade para confrontar o autor com algumas ambiguidades teóricas existentes na sua obra e críticas pertinentes de que tem sido alvo (como tive a oportunidade de o ver em grande forma em Paris) e não se tombe no show off que ele tão bem sabe fazer, e pelo qual, conjuntamente com a sua maneira um tanto ou quanto leviana e por vezes superficial de tratar problemas nucleares da filosofia ocidental, tem sido menosprezado nalguns círculos, digamos, mais rigorosos. De qualquer maneira afición não lhe vai faltar, estou certo.                                    

escrito por José Carlos Cardoso às 23:10
sinais:

 

 

A partir de hoje ficaram disponíveis on-line na Biblioteca Nacional mais 29 cadernos inéditos de Fernando Pessoa. Mais uma parte do famigerado baú que fica, assim, à distância de um batimento do dedo.

escrito por José Carlos Cardoso às 22:52
sinais:

23
Jun 08

 

 

Um idiota preguiçoso continua sempre a ser um idiota! E um preguiçoso inteligente é alguém que reflectiu acerca do mundo em que vive. Não se trata pois de preguiça. É tempo de reflexão. E quanto mais preguiçoso fores mais tempo tens para reflectir.

 

Albert Cossery 1913-2008

  

 Adenda.

O texto do Le Monde.

O texto de Pierre Assouline.

escrito por José Carlos Cardoso às 04:07

22
Jun 08

 Entre ou au delà des deux pôles de l’ontologique et du transcendantal où le questionnement politique cherche à s’articuler, il me semble qu’on peut distinguer une perspective différente, qui est précisément celle dans laquelle se situe mon travail. Le déséquilibre dans lequel le discours politique est constamment pris entre d’une part une revendication d’autonomie, d’irréductibilité, et d’autre part l’impossibilité de ne pas s’étayer sur un discours spéculatif déterminé, me semble, non pas se résorber, mais du moins devenir plus intelligible lorsqu’on s’interroge sur l’articulation de la politique et de l’anthropologie. C’est par un retour sur certains points aveugles de notre interprétation du marxisme, et, au fond, sur une dénégation qui se trouvait bien chez Marx, que j’ai été conduit à envisager la nécessité d’une reformulation et d’une relance du problème anthropologique.

 

Étienne Balibar, Une philosophie politique de la différence anthropologique - Entretien avec Bruno Karsenti

escrito por José Carlos Cardoso às 19:42

21
Jun 08

Ver um soi disant liberal a ir ao Marx com a desenvoltura que lhe é suposta em Rawls ou Nozick é coisa louvável. Ainda que, todos sabemos, o velhote sempre tenha tido as costas largas. O que me interessa ali é aquela frase subtilmente lapidar, que, pela técnica de escrita, cola-se ao leitor mais desprevenido como se de uma evidência se tratasse:

 

"E não há diferença sem conflito."

 

Ora, é daquelas coisas que, como dizem os franceses, il ne va pas de soi. Com efeito, é de toda uma velha e bafienta leitura de Marx que se parece tratar, à imagem do que foi, décadas antes, a leitura torpe que pretendia colar Nietzsche a algumas posições de direita radical, e que toda uma geração de intelectuais e filósofos, principalmente de origem francesa e italiana, se empenhou a desmontar ao longo dos anos 60, ao mesmo tempo que o Hegel de alguns marxistas (nomeadamente da Escola de Frankfurt) aparecia como mais conservador.

 

Assim, e pour aller vite, o nó górdio da questão está no estatuto ontológico atribuído à síntese hegeliana, lugar por excelência do trabalho do negativo, motor do sistema regido pela negação dos contrários, e isto significa fazer depender (ontologicamente) a diferença do negativo. Foi justamente esta dependência que a empresa deleuziana de uma ontologia da diferença visou suplantar, tentando pensar a diferença na sua primazia ontológica como eminentemente afirmativa e criadora (e, portanto, positiva). Isto reveste-se de uma enorme importância - para dar um só exemplo, sensível ao autor - se perspectivado em relação estrita com as possibilidades da construção europeia e como máquina de resistência às lógicas identitárias que, por estes dias, ainda grassam pelas cabecinhas iluminadas dos nossos governantes e dos burocratas de Bruxelas (veja-se por exemplo a política de imigração que Sarkozy quer fazer vingar - Foucault já dizia, há trinta anos atrás, que um dos maiores problemas da Europa iria ser o da imigração - e a absurda Directiva 18 vergonhosamente aprovada na sede da União).

 

Quer-se, pois, um Marx capaz para pensar o séc. XXI e os desafios que este nos coloca. Deleuze já não o fez, embora, à altura do seu suicídio em 1995, começasse a preparar um La Gloire de Marx. Mas fazem-no uma nova vaga de pensadores (T. Negri; E. Balibar; Y.M. Boutang; M. Tronti; etc) que trocaram Hegel por Espinoza para principal interlocutor. Uma Europa possível, uma outra Europa poderá passar por aqui. De qualquer forma, de uma coisa estou convencido, ou a Europa se faz como espaço privilegiado da diferença (que lhe é constitutiva), ou elle ne sera pas.

 

escrito por José Carlos Cardoso às 23:41
sinais: ,

20
Jun 08

 Parece que a próxima edição do Livros em Desassossego se vai debruçar sobre a mui nobre questão de "como valorizar (ainda mais) a marca Pessoa". Na cabecinha daquelas luminárias continua-se a querer vender sabonetes. Ou postais.

 

E que tal pensar na forma do país estar à altura de Pessoa, do que ele viu, e não do tamanho da nossa altura.

 

 

P.S. Gosto especialmente daquele "ainda mais". O sublinhado é meu.

escrito por José Carlos Cardoso às 19:59

 Ontem foi-me diagnosticada demência. A ser verdade corresponderia, aproximadamente, à minha última década. Acho que vou pedir uma segunda opinião.

escrito por José Carlos Cardoso às 19:47

17
Jun 08

 Chamo a atenção para a trupe que se instalou no quarteirão Wordpress ocupando todo o andar que dá pelo nome de Caminhos da Memória. A merecer visitas regulares. Para que não esqueçamos.

 

Vai também para a coluna da direita o blog oficial do filósofo e investigador francês Didier Eribon. 

escrito por José Carlos Cardoso às 19:42
sinais: ,

16
Jun 08

escrito por José Carlos Cardoso às 23:17
sinais:

 Descubro que tenho um duplo que, hélas, é um(a) pantagrueliano(a).

escrito por José Carlos Cardoso às 23:09
sinais:

 Estes últimos dias apercebi-me que tinha descurado um pormenor importante relativamente à instalação do à côté de la plaque no condomínio do Sapo, a saber, a sua compatibilidade com mac e, nomeadamente, com o browser Safari. Parece, no entanto, que isto já esteve pior e que caminha para a total funcionalidade. Esperam-se, portanto, dias de maior eficiência.  

escrito por José Carlos Cardoso às 22:47

09
Jun 08

 Para alguém que, como eu, se retirou para a província para escrever (ou, pelo menos, tentar) podem dizer-me onde é que se arranja estas preciosidades

escrito por José Carlos Cardoso às 22:54

06
Jun 08

 

Vou ali dar um passeio nas avenidas cor de tijolo.

escrito por José Carlos Cardoso às 22:25

03
Jun 08

 O seu único romance, já tardio, uma vasta suma intitulada Só e mal acompanhado, foi amplamente premiado mas debatido com rara virulência: houve quem referisse Blanchot e Beckett, houve quem dissesse ser o mesmo de sempre, numa espécie de vasto blogue feito de pequenos e grandes nadas.

 

A não perder o delicioso exercício de futurologia de Osvaldo Manuel Silvestre Obituário de Pedro Mexia em 2048.

escrito por José Carlos Cardoso às 19:08
sinais: ,

 

 Porque é que um livro demora 72 horas a chegar de Paris e uma semana e meia a chegar de Lisboa?

escrito por José Carlos Cardoso às 17:24

02
Jun 08

Ainsi passe-t-on du corps intérieur et des écrans de sa vision à la figuration vibrante de masses animées, au gré de rythmes innervés par une tension sans cesse variable, visible et objective autant que discrètement insaisissable, entre le continu et le discontinu de traits-tâches-figures plus ou moins saturant la surface blanche. Le miracle, dès lors, tient à la variété (c'est aussi le mot de Deleuze et Guattari, dans "Qu'est-ce que la philosophie?" où Michaux occupe une position si forte, pour qualifier les sensations d'art rapportées du chaos). Variétés des espacements, des poussées motrices (horizontales, verticales, tournoyantes, mélangées, contrariées). Variétés d'épaisseurs entre les micro-tâches et les traits. Nostalgies da la ligne, parfois, infusions fines de couleurs. Une fois, témoignant ici pour beaucoup d'autres, un large horizon de blanc subsiste pour recueillir des filages frémissants et furieux.

 

 

Raymond Bellour sobre as tintas da china de Henri Michaux no blog de Jean-Clet Martin.

escrito por José Carlos Cardoso às 06:29

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