"[...]mas faz-nos esboçar uma realidade supra-sensível compatível com o uso experimental da nossa razão. Sem uma tal precaução, não saberíamos fazer o mínimo uso de semelhante conceito e deliraríamos ao invés de pensarmos.[...]"

17
Dez 08

 

escrito por José Carlos Cardoso às 22:54

16
Dez 08

Aperceber-se, na escuridão do presente, desta luz que procura alcançar-nos e que não o pode fazer, eis o que significa ser contemporâneo. Por isso é que os contemporâneos são raros. E por isso é que ser contemporâneo é, antes de mais, uma questão de coragem: porque significa ser capaz não apenas de ter o olhar fixo na escuridão da época, mas também aperceber-se, nessa escuridão, de uma luz que, dirigida na nossa direcção, se distancia infinitamente de nós. Ou ainda: ser pontual ao encontro a que se pode somente faltar.

 

Um encontro falhado ao qual se é pontual, obstinada e obsessivamente, é, nas palavras de Agamben (aqui numa tradução do sempre atento André Dias) o trabalho do contemporâneo; ao limite, o trabalho da contemporaneidade, dela e por ela. Sirva isto para alumiar as obras artísticas que assumem esta "coragem" (e, por contiguidade, será esta "coragem" toda a questão crítica - no elevado sentido kantiano - da exposição das ditas). Assim sendo, e concordando que será de evitar sempre uma escolha directa e oficial, por parte do Estado, também o será toda a gama de organizadores e curadores que mais não seguem senão as directrizes das feiras internacionais servindo anseios galerísticos (com honrosas excepções que as há). Da "coragem" da obra à exigência crítica de quem a promove vai um passo decisivo. E é para mim sintomático que das pessoas que mais profundamente pensam a Arte no nosso país não se lhes conheçam muitos convites para projectos de curadoria. Portanto, entre uma escolha de "qualidade reconhecida" que venha contribuir para a "paródia" e um feliz acidente de uma escolha directa, acho que não preciso de escolher. Talvez para 2011 possamos ter como curador alguém como Maria Filomena Molder.

 


14
Dez 08

A coisa estalou e este fim de semana não havia outra preocupação, quando, para falar com rigor, o problema tem meses e continua a ganhar volume a uma velocidade assinalável. Mas, mais do que a incompetência da DGA, choca-me o sectarismo serôdio que reagiu ao convite a Pedro Costa, que, ainda por cima, integraria um ano que se prevê tudo menos previsível. Se este falhar, dado que parece estar encravado em questões exteriores ao domínio artístico, e justamente para resistir à paródia, ao contrário de algumas boutades, poderíamos tentar prolongar a exigência de uma modernidade ao limite, levada a cabo pela magnífica representação à Bienal de Arquitectura deste ano, e quem melhor do que praticantes das Belas-Artes, que os temos e de qualidade superior. Querem proposta mais radical, face ao actual estado de coisas, do que levar a escultura de um Rui Chafes ou a pintura de um João Queiroz?

escrito por José Carlos Cardoso às 23:52

05
Nov 08

 

 

Não sabemos ainda em propriedade o que é a contemporaneidade. Sabemos que não é, simplesmente, o actual-presente, em confronto com o qual Benjamim criou o conceito de Jetztzeit a partir do Angelus novus de Klee, e que implicava uma inflexão política e epistemológica do historicismo dominante. Poucos anos antes Heidegger batia-se contra aquilo que qualificou como o "conceito vulgar de tempo". Interessa, pois, nestes momentos históricos em que se vislumbra o novo no horizonte - se realidade ou ilusão, é uma questão infértil com categorias obsoletas, atente-se aqui a uma imagem específica produzida pelo seu tempo, e à pre-disposição dos corpos contemporâneos a esta (no sentido em que são, simultaneamente, causa e efeito) para a encarnar - compreender as duas faces do tempo desse surgimento, os dois tipos de movimento. Se, por um lado, temos essa faceta mitológica do presente devorador, aterrador, negativo (em sentido ontológico), que análises avisadas como a de Sloterdijk tomam como único e infinito (querendo ultrapassar o "total" de Jünger), temos também toda uma outra gama de linhas desse movimento que descolam do empírico negativado e que constituem a possibilidade mesma de surgimento do novo. Assim sendo, o contemporâneo adquire uma dimensão própria que ambiciona ao plano transcendental, um tempo já não de facto, mas de juris, que traz o novo ao/do presente. Aquilo que está virtualmente em mudança só pode, pois, ser pensável neste plano, sendo que qualquer passo em falso no sentido de uma "confusão" deste em relação ao actual-presente pode conduzir a "cegueiras" do género das que padeceram o próprio Heidegger (em relação ao nazismo) e Sartre (com o estalinismo), para dar só dois exemplos.

 

A imagem acima é da capa do The Economist. 

escrito por José Carlos Cardoso às 23:00

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